O futuro das cidades é tema de palestras no Inciti
23 de outubro de 2015 |
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“A arquitetura desenha o espaço em que a gente vive.” Essa foi apenas uma das frases de reflexão que foram expostas no filme Arquitetura e o Ballet de Rua, lançado no Recife na última terça-feira (20), durante o Ciclo Nacional de Palestras “Cidades do Amanhã”, realizado no Inciti. A edição na capital pernambucana reuniu profissionais, estudantes e público geral para discutir o atual estado das cidades brasileiras e qual a perspectiva delas para o futuro.
Com patrocínio da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ), além de o apoio institucional do CAU/PE, o evento trouxe o arquiteto e doutor em estudos arquitetônicos avançados Vinícius Moraes Netto, responsável pela produção do filme e pela pesquisa empírica que inspirou a criação da obra. Após a exibição, Vinícius relatou a experiência e revelou dados alarmantes sobre a morfologia urbana no Brasil.
De acordo com os dados, o novo padrão de arquitetura no país, com arranha-céus e fachadas altas, dificulta a interação das construções com as ruas, diminuindo a quantidade de pedestres que passam perto dos imóveis. “Analisamos cerca de oito mil ruas em três cidades, e os resultados se apresentavam como um padrão, principalmente nos bairros mais novos. Isso é preocupante, pois o número de pedestres nas ruas cai a cada metro de aumento entre a fachada e o passeio”, afirmou Vinícius.
Como consequência, ele explicou que o fenômeno eleva pontos como insegurança nas ruas e segregação social, além de afastar pontos de comércio de certas regiões das cidades, o que é prejudicial à economia. “O problema não é a visualidade, mas sim a vitalidade. A urbanidade parece se dissolver e isso não é algo novo, é velho, mas ninguém parece ter aprendido nada até então. Precisamos mudar esse paradigma”, apontou o arquiteto.
A palestra “Recife hoje e amanhã”, de Geraldo Marinho, deu continuidade às explanações de Vinícius, contextualizado a problemática regionalmente. Em defesa da urbanidade, a fala refletiu sobre as raízes do Recife e novas perspectivas de futuro sem agressão à urbanidade e às paisagens urbanas. “A expectativa do amanhã que a gente tem é de tantas mudanças, que às vezes a permanência pode significar muito mais do que essas alterações”, disse Marinho.
O discurso foi endossado por Circe Monteiro e por Moraes Netto. “As cidades do Nordeste, em especial, parecem ter tomado anabolizantes, verticalizaram demais”, assinalou Vinícius. “Esse debate nos leva a refletir sobre o que estamos construindo e/ou destruindo. As cidades estão perdendo suas almas”, pontuou Circe, que complementou: “Temos que pensar nas ideias inovadoras, se não teremos desistido das cidades. Cada um de nós tem o poder de transformar a cidade com nossas ações pontuais.”
Após as falas, houve debate com os profissionais Maria de Jesus Britto e Luiz Carvalho. Em seguida, o público pode fazer perguntas e considerações sobre as apresentações, interagindo com os palestrantes. O presidente do CAU/PE, Roberto Montezuma, acompanhou as atividades e classificou-as como positivas. “O que vimos aqui é a cidade em fatos. Não é achismo, é pesquisa. Precisamos mudar a cultura das pessoas e apresentar a cidade sempre assim, não como problema, mas como oportunidade de mudança para melhor”, disse.