Participação social é fundamental na urbanização das áreas de baixa renda
6 de dezembro de 2013 |
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Apesar de contar com as Zonas Especiais de Interesse Social, instrumento que protege boa parte dos assentamentos populares, o Recife ainda tem muito a fazer no que diz respeito à urbanização das áreas de baixa renda. Reunidos em debate promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), na última quinta-feira, especialistas apontaram desafios como a recuperação realizada nas próprias áreas, no lugar da remoção. Além disso, entende-se que, nos casos em que a transferir as famílias se faz imprescindível, a participação das pessoas envolvidas é indispensável, bem como a construção de equipamentos acessórios.
“O Recife tem peculiaridades que aproximam os assentamentos populares do restante da cidade: a questão geográfica, já que temos muitos morros, e a existência das ZEIS”, pontuou o professor do Mestrado em Desenvolvimento Urbano (MDU) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Luís de la Mora, mediador da mesa-redonda. Para falar sobre como tal característica se reflete na cidade e, sobretudo, nas pessoas, membros de um grupo interdisciplinar coordenado por de la Mora apresentaram o caso da Vila do Vintém, ZEIS localizada no bairro de Casa Forte.
Em 2004, 192 famílias da Vila do Vintém foram removidas para um conjunto habitacional no bairro do Cordeiro e até sofrem dificuldade para retomar suas vidas – trabalho, vizinhos, hábitos sociais, etc. Já as 90 famílias que permaneceram no local, mesmo sofrendo com a precária estrutura física, conseguem manter uma relação mais integrada com o entorno. “Há bares, lan house, igreja na comunidade. Esses espaços são frequentados por funcionários do shopping que fica ao lado, por exemplo. Da mesma forma, pessoas da comunidade trabalham no shopping, no supermercado”, revelou a colombiana Diana Gomes Bautista, assistente social.
Também presente à mesa de debates, Socorro Leite, da ONG Habitat para a Humanidade, falou sobre problemas como o que ela chamou de engavetamento do Estatuto das Cidades, o baixo padrão de urbanização das áreas de baixa renda e a dificuldade em conciliar o desenvolvimento econômico com a inclusão social, melhorando as condições de moradia nas áreas pobres. Já Rudrigo Rafael, que representou o Fórum Social de Reforma Urbana de Pernambuco, abordou a questão dos conflitos fundiários e da sensibilização dos diversos setores da sociedade.
O encontro faz parte da programação da exposição “Cerdà e a Barcelona do Futuro – Realidade versus Projeto”. Curadora da mostra, a conselheira do CAU/PE Amélia Reynaldo lembrou que, ainda no século XIX, quando elaborou o plano de reforma urbana para a cidade de Barcelona, o urbanista catalão Idelfons Cerdà admitiu que as áreas mais populares da cidade não podem ser encaradas como um espaço à parte da malha urbana, mas sim incorporadas por ela.