Marcelo Freitas: “É preciso resguardar lugares de memória e identidade das duas cidades”
11 de março de 2016 |
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Neste 12 de março, as cidades irmãs Recife e Olinda completam, respectivamente, 479 e 481 anos de fundação. Sob ponto de vista da Arquitetura e do Urbanismo, foram muitas as mudanças paisagísticas pelas quais os municípios passaram durante os séculos. Estilos diversos como barroco, classicismo, art déco e modernismo ajudam até hoje a contar a história dessas duas cidades, representando verdadeiro legado arquitetônico que ajudou a compor a identidade de Recife e Olinda.
O suplente de conselheiro do CAU/PE e técnico em arquitetura e urbanismo do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Pernambuco (Iphan) Marcelo Freitas conversou sobre o assunto em entrevista e detalhou que estilos foram mais relevantes, que edificações representam as diferentes escolas da Arquitetura mundial e quais arquitetos foram responsáveis por trazer essas tendências a Recife e Olinda. No bate-papo, Freitas também ressaltou a necessidade de cuidar desse patrimônio, como uma garantia de preservar “a memória e a identidade das duas cidades”.
Como a Arquitetura das cidades evoluiu ao longo desse tempo?
Recife e Olinda são cidades irmãs, por isso a evolução urbanística e arquitetônica delas não pode ser dissociada. Apesar de particularidades, ambas passaram por diversos estilos ao longo dos séculos. Hoje, elas se encontram remanescentes de arquitetura colonial – por vezes barroca e rococó, principalmente nos monumentos -, oitocentista – de um classicismo racionalista ou de um ecletismo nascente, que perduraram nas primeiras décadas do século XX -, e modernista nas décadas seguintes a este último século.
Que estilos arquitetônicos se destacam na construção identitária das cidades?
Devido à origem, Recife e Olinda são pontuadas por um riquíssimo conjunto de igrejas, fortificações e prédios públicos e privados. O barroco e o rococó, de matriz europeia, são revelados não somente nas fachadas de seus templos católicos, mas também nas talhas de seus retábulos e púlpitos, nas pinturas de seus forros e em sua imaginária. A partir do século XIX, as cidades passaram a exibir o classicismo, com projetos mais simples e racionalizados. Na passagem do século XIX para o XX, destacou-se o ecletismo, com projetos de boulevards e arquitetura de ferro, seguido pelo art decó e o modernismo.
Que edificações e nomes da Arquitetura você destacaria como responsáveis pela manutenção desses estilos na atualidade?
Entre tantos arquitetos que marcaram e ainda marcam, com suas obras, a paisagem recifense e olindense através dos séculos, destacam-se projetos históricos. A começar no classicismo do século XIX, com obras de engenheiros-arquitetos como Louis Léger Vauthier (Teatro Santa Isabel), José Mamede Alves Ferreira (Ginásio Pernambucano e Casa de Detenção) e José Tibúrcio Pereira Magalhães (prédio da Assembleia Legislativa e Teatro Santo Isabel, em sua reconstrução). O ecletismo está presente no Mercado de São José e nas ruas boulevards do Recife Antigo, como as Avenidas Rio Branco e Marquês de Olinda. Um bom exemplo de art déco é a Avenida Guararapes, enquanto a arquitetura moderna, por sua vez, é fortemente representada pelos jardins de Burle Marx (Praças de Casa Forte e Euclides da Cunha) e pela obra de Luís Nunes (Pavilhão de Verificação de Óbitos).
Há estilos mais predominantes em Recife do que em Olinda, e vice-versa?
Olinda representa a expressão máxima do poder colonial português, dos senhores de engenho, enquanto o Recife, cidade dos macates, entre rios, pontes e canais, foi fruto de condicionantes militares e culturais da presença holandesa. Em Olinda, na cidade alta, predomina a presença da arquitetura colonial, e, sobretudo, em seus templos religiosos, os estilos barroco e rococó; já pela cidade baixa, irradia-se o estilo eclético e proto moderno. Em Recife, há uma clara mescla de estilos arquitetônicos, fruto do rápido e extenso processo de modernização das estruturas urbanas a partir da segunda metade do século XX. Portanto, em bairros como Recife Antigo, Santo Antônio, São José e Boa Vista, temos a presença de representativos exemplares da arquitetura colonial (barroca e rococó), do século XIX (neoclassicismo e ecletismo) e do século XX (ecletismo, art déco e arquitetura moderna).
Na sua opinião, o que essas transformações representam na atualidade?
Tendo em vista as intensas transformações das cidades nestas três últimas décadas, que foram marcadas por um processo de adensamento e verticalização das estruturas urbanas, surge a necessidade de assegurar a preservação do patrimônio cultural, seja do ponto de vista arquitetônico, urbanístico ou paisagístico. É preciso resguardar os lugares de memória e de identidade das duas cidades.
Confira obras que exemplificam os estilos citados na entrevista: