Juliana Barreto: “A publicação imortaliza o processo de intervenção”
1 de fevereiro de 2016 |
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Grandes cidades podem abrigar tesouros escondidos e revelá-los demanda bastante empenho. Em 2014, o Recife teve parte de sua história resgatada ao ser contemplado com um novo equipamento sociocultural – o Parque Urbano da Macaxeira. Situado no bairro da Macaxeira, Zona Norte do Recife, o parque foi instalado na edificação da antiga Fábrica de Tecidos Coronel Othon, símbolo da indústria têxtil pernambucana que estava abandonado desde a década de 1970.
A arquiteta e urbanista Juliana Barreto foi uma das profissionais que atuou, entre 2011 e 2014, no processo de revitalização do edifício. Com experiência na área de restauro, Juliana abraçou a causa e o seu trabalho acabou indo além dos 10 hectares que comportam a antiga fábrica da Macaxeira, como o local é carinhosamente chamado pela população. No livro Nos Teares da História: Entre Fábrica e Escola, uma Restauração, ela narra especificidades do projeto, contemplando um panorama desde a época áurea do cotonifício até a atualidade.
Publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (CEPE), em parceria com o Centro de Estudos de História Municipal (CEHM), o livro foi lançado em novembro de 2015, durante a programação da Festa Literária Internacional de Pernambuco – a Fliporto. Em entrevista ao CAU/PE, Juliana Barreto contou como foi sua participação no projeto, os desafios que enfrentou e, principalmente, como ela foi motivada a produzir a obra. Em 170 páginas, a publicação reúne mais de 100 imagens, mapas e plantas de projeto, além de dados históricos e técnicos fruto de pesquisas.
Como foi a sua participação na revitalização do imóvel?
Em 2011, fui convidada pelo então Secretário das Cidades, Danilo Cabral, para desenvolver o projeto. Meu foco foi a intervenção física para implantação de equipamentos sociais, como foi o caso da Escola Técnica Estadual e do Expresso Cidadão. Desenvolvemos o projeto identificando valores culturais e a tipologia edilícia, desenvolvendo pesquisas históricas e iconográficas e seguindo recomendações específicas para os casos de restauro e implantação de novos usos em bens culturais de relevante valor histórico e arquitetônico.
Que etapa foi mais desafiadora, na sua opinião?
O grande desafio foi a criação de soluções arquitetônicas de intervenção no acervo de natureza industrial, pois esses aspectos metodológicos ainda são pouco divulgados e, menos ainda, sistematizados. Por isso, foram estudadas e consultadas outras experiências de intervenção arquitetônica em bens culturais de arquitetura industrial para análise de possíveis soluções exitosas nesse processo. Outro ponto foi viabilizar o novo uso do prédio, buscando atender as necessidades da comunidade do entorno e, portanto, resgatar a dinamização do potencial urbanístico, social e até mesmo turístico do local.
E, depois de tudo, como surgiu a ideia de formular o livro?
O livro surgiu da necessidade sempre constante de registrar esse tipo de processo. Ações dessa natureza despertam o interesse e a curiosidade de profissionais da área sobre os modos de intervenção arquitetônica, mas raramente elas chegam na etapa de publicação. Além do mais, a antiga fábrica de tecidos possui uma rica história de surgimento e ampliações físicas, que reflete o período áureo da produção têxtil em Pernambuco. Por isso, a medida em que iniciamos as pesquisas sobre a antiga fábrica, a documentação foi sendo organizada, sistematizada e interpretada para posterior publicação.
Qual a importância desse registro literário para a arquitetura?
O livro apresenta as pesquisas que embasaram as soluções do projeto, o estado de conservação em que se encontrava todo o conjunto industrial em 2011 e as soluções do projeto de intervenção. Portanto, a publicação imortaliza o processo de intervenção e apresenta os resultados das pesquisas, mostrando os diversos tempos do imóvel – desde o núcleo primitivo até a sua consolidação física nos anos 1970, o estado de descuido identificado em 2011 e o resultado final, obtido após a intervenção.
Na sua visão, que legado esse trabalho deixa para o Recife e para Pernambuco?
A importância desse processo reside, principalmente, na disponibilização de uma grande área urbana para uso público, com atividades de recreação, lazer, contemplação, educação e serviços. Hoje, a área é usada pela população e por alunos da Escola Técnica Miguel Batista, uma relação que desperta sentimentos de pertencimento ao local neles e de memória afetiva nos moradores do entorno. Foi louvável a visão governamental em voltar o edifício em prol de benefícios sociais. Desse modo, acredito que são cumpridos os preceitos da Conservação Integrada no processo de planejamento urbano e territorial do Recife.
Serviço:
Nos Teares da História: entre Fábrica e Escola, uma Restauração
Volume 7 da Coleção Documentos Históricos Municipais
Publicação: Companhia Editora de Pernambuco (CEPE)
Prefácio: José Luiz da Mota Menezes
Apresentação: Danilo Cabral
À venda na sede da Agência Estadual Condepe/Fidem (Rua Barão de São Borja, 526 – Boa Vista) e na Livraria Saraiva do Shopping RioMar (Av. República do Líbano, 251 – Pina)
Preço: R$ 35