Bruno Firmino: “O cinema é uma forma interessante de se registrar a arquitetura”
7 de janeiro de 2016 |
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Conhecido por conceber obras arquitetônicas em sintonia com as ruas e a natureza, Wandenkolk Tinoco é um exemplo raro que inspira a busca por uma arquitetura moderna de qualidade. É nisso que acredita o arquiteto Bruno Firmino, que escreveu o roteiro e dirigiu o curtametragem Wandenkolk, lançado durante o 17º FestCine – Festival de Curtas de Pernambuco, no Recife, em dezembro de 2015.
Entusiasta da combinação arquitetura e cinema, Firmino, que já colaborou com outras produções que fazem essa união – como Velho Recife Novo, Desurbanismo 1 e Desurbanismo 2 -, enxerga nessa fórmula uma maneira de se evidenciar elementos poucos explorados nas construções da atualidade, mas que são necessários a uma arquitetura honesta e inclusiva.
Em breve conversa com o CAU/PE, Bruno Firmino relatou um pouco sobre a realização do filme, que, segundo ele, reflete a busca por produções arquitetônicas que representem “pequenos espaços de cidade, e não artefatos herméticos, pretensamente autônomos, que se fecham ao espaço público”. No curta, é possível conferir entrevistas e passear por algumas das principais obras de Wandenkolk no Recife, erguidas entre os anos 1960 e 1970, como os edifícios Villa Bella, Villa Mariana, Villa da Praia, Villa Cláudia e Villa Cristina.
Como veio a ideia de fazer um filme abordando a obra de Wandenkolk?
A ideia surgiu pela escassez de materiais sobre a arquitetura realizada em Pernambuco, em especial a produção moderna. Wandenkolk possui uma produção muito consistente, principalmente para edifícios residenciais. Nada mais justo trazer à tona um trabalho que se sobressai de forma latente à atual produção imobiliária, que ignora preceitos de urbanidade e características climáticas da nossa cidade.
Como se deu o processo de realização do filme?
Antes das filmagens, realizamos um levantamento de obras, registros e publicações sobre Wandenkolk. Logo após essa etapa, fizemos alguns estudos de locação em alguns edifícios, com fotografias e filmagens prévias. Só depois partimos para filmar as obras de maneira definitiva. O processo foi conduzido de forma lenta, permeada por discussões com toda a equipe.
Como você acredita que a arquitetura pode se beneficiar através do cinema, e vice-versa?
O cinema é uma forma interessante de se registrar a arquitetura. Através do filme, é possível levar quem o assiste a uma imersão na obra arquitetônica e conhecer aspectos a partir do ponto de vista do pedestre. Além disso, a documentação funciona como salvaguarda de um período da vida de um edifício ou trecho de cidade. Por outro lado, a arquitetura traz consigo um quê de cinema, uma vez que o arquiteto, assim como o diretor, nos direciona por onde caminhar, onde devemos parar, direciona o nosso olhar, controla a passagem da luz, o desenho da sombra, entre outros aspectos.
Que mensagens de reflexão você sente que conseguiu deixar para a sociedade?
Com o filme, constatamos que nossa arquitetura moderna vem sofrendo uma descaracterização lenta, muitas vezes retirando aspectos que fizeram nossa arquitetura ganhar ares mais adequados e que são importantes na composição dos edifícios – brises, cobogós, jardineiras, peitoris ventilados, etc. Espero ter conseguido somar um pouco ao movimento em prol da defesa das cidades e de uma arquitetura de qualidade.
Ainda não assistiu ao filme? Confira o teaser:
Wandenkolk – Teaser from Aeroplanos on Vimeo.