Artigo: ‘A metrópole é aqui’, por Jório Cruz
19 de julho de 2016 |
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A metrópole é uma união de cidades, mas para os Municípios é como se ela fosse fora, noutro lugar. A metrópole não é por eles percebida, embora se estenda una por vários Municípios. A quem a metrópole interessa, então? Para muitos, ela é apenas uma aglomeração de cidades supostamente autônomas.
Não é a união indissolúvel de centros urbanos, com plena integração entre eles. Por ser tratada como abstração, até hoje a metrópole não tem representatividade política nem realidade fiscal. Não tem serviços urbanos nem planejamento legítimo. A metrópole não tem governo próprio nem estrutura institucional plena. A metrópole é abstração no mundo político, porque os políticos são municipais e não veem nela lugar para eles. Não percebem que a metrópole contém Municípios e é por isso o grande desafio a ser enfrentado. Sobretudo administrativamente. Hoje já não se pode mais deixá-la de fora da Federação.
As pessoas se sentem municipais, mas vivem suas grandes expectativas nas oportunidades econômicas, sociais, culturais e políticas da metrópole. Isso explica por que a maioria da população urbana vive nessas cidades. Muitos, erroneamente, defendem a metrópole administrada pelo Estado, como prerrogativa do governador. E com base nessa crença, os políticos municipais se regozijam como beneficiários da atuação do Estado em seus Municípios, com ações metropolitanas. Por essa razão, chegam a achar que caberia ao Estado suprir e operar na metrópole equipamentos, infraestrutura e serviços urbanos. Se assim fosse, porém, quem no Estado daria os alvarás de operação desses serviços, se os serviços urbanos são municipais? Ou na metrópole os serviços não seriam urbanos? A governança da metrópole não é estadual, é intermunicipal, por interessar a todos. A metrópole é uma união de cidades. Parece que por aí afloram as verdadeiras dificuldades para o entendimento mais correto.
Os Municípios se acostumaram a não ter o comando das suas cidades, cada vez mais a mercê do empirismo e da sequência crítica de negócios em lotes, sem reais compromissos com a cidade. Ademais, como poderiam ter compromissos com a metrópole, se é utopia para eles? Os Municípios se sentem ofendidos diante da realidade de que suas cidades são como bairros da metrópole e que, neste caso, elas precisam se integrar e não cultuar velha e anacrônica autonomia. Não é mais crível um discurso municipalista no debate sobre cidades, principalmente em campanha eleitoral. De qual cidade falam nessas campanhas, se quase sempre os problemas de uma têm causas em outra. As pessoas vivem o cotidiano numa cidade, mas moram e dormem à noite em outra. E vivendo o cotidiano na cidade em que trabalham, não elegem ali seus representantes, porque o eleitor só vota na cidade onde mora e dorme, não na que desenvolve oportunidades e negócios. Essas ocorrências são corriqueiras na metrópole, que é cidade feita de cidades, porque todas pertencem à metrópole. Não é jogo de palavra afirmar que a região metropolitana é da metrópole e a metrópole é a cidade íntegra da região metropolitana. É a melhor síntese que se faz desse fenômeno que atinge a maioria da população urbana
do país e que as autoridades ainda fazem pouco caso.
Vai começar o debate eleitoral e em todos os Municípios os candidatos pleitearão coisas para suas cidades, porque tê-las bem distribuídas na metrópole não importa. Na luta pelo voto a metrópole não é aqui.
Íntegra do artigo publicado Jornal do Commercio em 19 de julho de 2016.