Mesa-redonda Recife pensa Recife abre ciclo de debates promovido pelo CAU/PE
19 de novembro de 2013 |
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Uma das principais missões da exposição “Cerdà e a Barcelona do Futuro”, em cartaz no Museu da Cidade do Recife, é provocar reflexão e debate em torno do desenvolvimento urbano do Recife. E para reforçar esse propósito o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE), apoiador técnico da mostra, promove uma agenda de eventos paralelos. O primeiro deles, a mesa-redonda intitulada “Recife pensa Recife”, foi realizada no último dia 14 de novembro e contou com palestras do advogado Leonardo Cisneiros, do geógrafo Jean Bitoun e do economista Guilherme Cavalcanti.
Durante o encontro, a curadora local da exposição e conselheira do CAU/PE, Amélia Reynaldo, fez questão de traçar um panorama urbanístico do Recife atual. “Nós herdamos uma cidade dividida em loteamentos fragmentados, que não foram resolvidos pelo nosso último plano urbanístico, que já tem 70 anos”, pontuou ela. O desproporcional coeficiente de aproveitamento – que muitas vezes passa de 7 – e a substituição do espaço público ainda foram destacados pela conselheira e pelo presidente do CAU/PE, Roberto Montezuma, que também participou do evento.
O economista Guilherme Cavalcanti hoje trabalha para tirar do papel a Agência Recife de Inovação e Estratégia (Áries), que funcionará como uma espécie de consultoria, está envolvido na elaboração do projeto Recife 500 anos, sugerido pelo CAU/PE e abraçado pela Prefeitura do Recife e explicou a iniciativa. “A ideia é que tenha um conteúdo imutável, mas que também seja um documento vivo, que cresça com a cidade”, contou. De acordo ele, o documento que irá nortear o projeto terá que contemplar: uma carteira de projetos estratégicos, um programa de investimentos e financiamentos, diretrizes para o ordenamento da ocupação territorial e um modelo de governança multi-institucional de execução e gestão do plano.
Ainda na perspectiva do longo prazo, o geógrafo Jean Bitoun, do Instituto Pelópidas Silveira, foi categórico: “quando se trata de cidade, polo mata. O que importa é a malha urbana”. Após fazer um breve apanhado histórico dos principais problemas urbanísticos do Recife, o especialista apontou gargalos atuais como o conceito de cidade corporativa. “Desde 1997 já há um levantamento de áreas com potencial imobiliário, como Santo Amaro. Existe planejamento o problema é quem faz e a quem serve”, disparou, defendendo uma visão mais cultural do urbanismo como solução. “Temos que pensar na dimensão social que reflete a nossa cidade.”
Já o advogado Leonardo Cisneiros, do grupo Direitos Urbanos, preferiu seguir a máxima de que o futuro se constrói agora e levantou debate sobre os novos empreendimentos imobiliários que têm sido aprovados na cidade de forma questionável. “O que temos hoje é um planejamento de conto de fadas, pois a lei é seletiva. O próprio CDU virou um teatro da participação popular. Na verdade, a cidade mendiga favores à iniciativa privada”, criticou o advogado, lembrando que a ausência de estudos ambientais e de impacto de vizinhança está entre as falhas mais gritantes.