Desafios urbanos do século XXI demandam integração e engajamento
1 de novembro de 2016 |
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Conhecer os desafios, engajar as pessoas e integrar os projetos. Esses conceitos permearam boa parte das falas durante encontro promovido pelo CAU/PE para discutir a Nova Agenda Urbana lançada no último mês de outubro. Após palestra “Habitat III: as lições urbanas da ONU por uma cidade do século XXI”, ministrada pelo presidente Roberto Montezuma, representantes de diversos setores da sociedade comentaram as metas urbanas do século. O encontro aconteceu na última segunda-feira (31.10), no Museu do Estado.
Para o presidente Roberto Montezuma, o grande desafio está em educar a sociedade para que ela entenda o poder transformador e civilizatório do urbanismo. “A cidade é o chão do desenvolvimento. Sem planejar esse chão, estamos fadados ao fracasso. A exclusão social, por exemplo, é uma opção projetual, não é o acaso”, defendeu ele, destacando o papel dos prefeitos nesse contexto. “As gestões municipais precisam compreender que são etapas de um plano urbanístico maior: um projeto de cidade transformadora”, completou Montezuma, mencionando ainda a urgência da criação de uma rede brasileira de cidades articulada internacionalmente. “Precisamos pensar global e agir localmente”, completou.
A necessidade de recuperar a cultura do planejamento urbano também foi destacada pelo coordenador da Comissão de Relações Internacionais do CAU/BR, o conselheiro federal por Pernambuco, Fernando Diniz, responsável por mediar o debate. “Perdemos o bonde da história nos últimos 30 anos, precisamos retomar o tempo perdido”, afirmou, lembrando que o Fórum Mundial de Prefeitos realizado durante a Conferência abordou políticas setoriais integradas.
Confira os destaques do debate:
“Não existe um modelo único de cidade, o que há são modelos a partir das sociedades que o constrói. Somos elogiados por termos muitas leis urbanísticas. Mas qual é a aplicação dessas normas na prática?”
– Fabiano Diniz, professor da Universidade Federal de Pernambuco e representante do Observatório das Metrópoles
“Precisamos de leis factíveis. Hoje 40% da cidade do Recife não cabe na legislação urbana da cidade. Partimos de um modelo ideal e esquecemos a referência real. É por isso que temos visto uma descaracterização contínua da cidade.”
– Fernanda Costa, advogada e representante da Associação Por Amor às Graças
“Nunca se discutiu tanto cidade como estamos fazendo agora, mas precisamos criar uma rede interna. Sem essa articulação, o Recife vai se transformar em um não-lugar. Enquanto a ONU foi da casa para a cidade, o Brasil fez o inverso: desmotou o planejamento urbano e hoje a legislação está voltada apenas para o lote.”
– Francisco Cunha, arquiteto, urbanista e membro do Observatório do Recife
“Enquanto cidade, temos como desafio conciliar uma agenda de superação com a agenda de transformação. Nesse processo, é fundamental construir uma visão comum para engajar toda a sociedade, estabelecer o que aspiramos e definir metas viáveis.”
– Guilherme Cavalcanti, administrador e diretor da agência A.R.I.E.S.
“As cidades concentram cada vez mais pessoas, então a solução para os principais problemas que enfrentamos há de estar aqui. Precisamos, contudo, reforçar o planejamento por indicadores, com metas a serem perseguidas a cada gestão.”
– João Domingos de Azevedo, arquiteto, urbanista e presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira