Parecer sobre construção de viadutos defende Plano Integrado para a cidade
10 de novembro de 2012 |
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Por meio de um parecer técnico encaminhado ao Governo do Estado, o Conselho de
Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco (CAU/PE) posicionou-se contrário ao projeto
dos viadutos da Avenida Agamenon Magalhães, proposta apresentada pela gestão
estadual para solucionar o problema do trânsito na capital. Para o Conselho, toda
e qualquer intervenção na área de mobilidade urbana deve ser pensada de forma
integrada e tendo o pedestre como unidade básica de referência para as decisões.
Partindo dessa premissa, a entidade desaconselha a construção dos viadutos por
entendê-los dissociados de um projeto articulado de cidade.
Na opinião do CAU/PE, a proposta da intervenção na avenida é resultado de uma ação
setorial e em consonância com uma demanda pontual – a Copa do Mundo de 2014.
Dessa forma, a iniciativa pode trazer transformações urbanas causadoras de danos
irreversíveis à capital pernambucana. “É preciso planejar a cidade e o território de
forma integrada e integradora e não por meio de soluções fragmentadas, por melhor
que possam ser do ponto de vista puramente técnico”, defende o presidente do
Conselho, Roberto Montezuma.
Uma das principais razões apresentadas pelo CAU/PE para desaconselhar a construção
dos viadutos é a falta de estudos técnicos suficientes e detalhados que comprovem a
eficiência da iniciativa. Pelo contrário, os cálculos existentes afirmam que, em pouco
tempo, o sistema viário proposto estará saturado. Além disso, a construção dos
viadutos, ao liberar os veículos retidos no trânsito lento da avenida gerará impactos
significativos nas vias próximas que já se encontram congestionadas.
Na opinião do Conselho, a Avenida Agamenon Magalhães, que se tornou o principal
corredor do município, se encontra saturada devido à flagrante descontinuidade
na implantação das segunda e terceira perimetrais. Ou seja: mais um motivo para
que qualquer intervenção nessa via seja profundamente estudadas, sob o risco de
contaminação de todo o Sistema Viário da Cidade do Recife.
Outra consideração importante é que o projeto termina por promover um modelo
que privilegia o transporte motorizado individual. “É uma opção questionada e
ultrapassada, que não mais vigora em inúmeras cidades europeias, norte-americanas
e até mesmo latino-americanas. Várias delas, que no passado optaram por viadutos
e elevados, estão revendo e retirando estes elementos de sua paisagem”, pontua
Montezuma. E por falar em paisagem, soma-se aos argumentos já mencionados,
o enorme impacto social e paisagístico (vide as ocupações irregulares sob essas
estruturas) dos viadutos.
LONGO PRAZO – Ao levantar a bandeira da necessidade de uma profunda
transformação urbana, o Conselho entende que as todas as ações nesse setor devem
ser baseadas em um Pacto pela Mobilidade. A exemplo de iniciativas bem-sucedidas –
como o “Pacto para La Movilidad”, implantado em Barcelona, em 1998 -, essa iniciativa
reuniria gestores públicos, sociedade civil e instituições técnicas e acadêmicas em um
espaço de participação com diálogo e compromisso com um projeto de longo prazo
para cidade.
Por fim, como forma de contribuir para essa transformação, o Conselho também
encaminhou ao grupo de gestores responsáveis pelo projeto dos viadutos, uma cópia
do documento Elementos para um Projeto de Cidade e do Território, com a proposta
RECIFE 500 ANOS – Projeto 2037. O estudo apresenta um exemplo concreto da
aplicação de um plano de longo prazo que transcende o planejamento setorial.